Para evitar a repetição de mais uma queda histórica das vendas, como em 2015, o varejo está lançando mão de toda sorte de estratégias para fisgar o consumidor. São ações que incluem prazos de até seis anos para financiamento, descontos progressivos para quem compra mais produtos e isenção do pagamento de uma das parcelas para quem paga em dia as prestações do carnê da loja.
A rede de supermercado Extra, do Grupo Pão de Açúcar, adotou uma tática usada pelos “atacarejos”, lojas que combinam o autosserviço dos supermercados com atacado, onde quem leva mais, paga menos. Desde o início deste mês, mil produtos oferecidos pelo Extra estão com descontos de 20%. Quem leva dois produtos, ganha desconto de 50% na segunda unidade. E se comprar três unidades do mesmo item, a terceira sai de graça. A cada 15 dias, esse grupo de produtos será trocado.
— Queremos criar um novo hábito nos consumidores, num momento em que estão procurando preços. Quem compra três itens, tem desconto médio de 33% e pode estocar — diz Luis Moreno, presidente do Multivarejo, divisão alimentar do GPA.
A estratégia, por enquanto, não tem data para acabar. Moreno vê semelhanças entre a estratégia do Extra e os “atacarejos”, mas destaca que nos supermercados a oferta de produtos é mais diversificada.
— Vi vantagem em comprar mais itens e ter um desconto maior. Como a inflação está corroendo o valor do dinheiro, o consumidor deixa de ser fiel às marcas e aos locais de compra e sai em busca do melhor preço — diz a dona de casa Apparecida Loretto, que fez compras no mercado na última semana.
PROMOÇÃO DE ITENS MAIS CAROS
Até mesmo lojas de produtos mais caros, como vinhos, estão usando a estratégia do “leve mais e pague menos” para reduzir os estoques. A World Wine, com lojas no Rio de Janeiro e São Paulo, oferece descontos de até 50% para quem compra seis unidades de um de seus rótulos incluídos nas promoções. Um vinho branco francês da marca Montgravet, safra 2014, vendido na Páscoa pelo preço cheio, custava R$ 101. Quem comprou seis unidades pagou R$ 50,50 em cada uma.
— Fazemos este tipo de promoção há um ano, quase todas as semanas. Com elas, mantivemos a clientela que procura ofertas mesmo num momento de retração da economia — diz a sommelier e responsável por uma das lojas da World Wine em São Paulo, Vanessa Azevedo.
No mercado de veículos, as vendas nas concessionárias caíram 27,8% no primeiro trimestre. Vale tudo para tentar esvaziar os pátios. A japonesa Nissan decidiu oferecer financiamentos de até 72 meses para seus carros, são dois anos mais que os 48 meses de antes. O prazo médio do mercado é de 40 meses.
— Já estamos vendo um movimento de volta às lojas dos clientes que estavam indecisos. Eles dão seu veículo usado como entrada e aproveitam o financiamento — diz José Macedo, diretor de vendas da Nissan, lembrando que o valor de entrada baixo, R$ 9 mil para um modelo March, também é atrativo.
Para quem dá 30% do valor do veículo e financia em 72 meses, o juro médio fica em 1,45% ao mês. Quem dá 70% de entrada, por exemplo e financia em 24 meses, tem juro zero. Macedo admite que o risco de inadimplência é mais alto com prazos maiores, mas afirma que na Nissan ela está em níveis “controlados”.
Os bancos são pressionados pelos parceiros comerciais a conceder mais crédito para desovar os estoques. E os parcelamentos são esticados. Mas quem faz compras em prazos mais longos tem que saber que paga mais juros — diz Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor de Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).
Numa simulação feita pelo especialista, um carro de R$ 35.000 financiado com taxa de juros média de 2,32% ao mês em 40 vezes sai por R$ 54.093. Quando o prazo sobe para 72 meses, o preço final é de R$ 72.338.
NEM PROMOÇÕES SALVAM 2016
A Casas Bahia oferece opções de pagamento em até 14 vezes sem juros no cartão de crédito da bandeira e 18 vezes no carnê, isentando a última prestação para os clientes que estiveram com as parcelas em dia. No Ponto Frio, o prazo de financiamento fica em 14 vezes, no cartão da marca. No ano passado, os prazos de financiamento variavam entre dez e 12 vezes em ambas. Em nota, a Via Varejo, que administra as duas marcas, informou que em alguns casos pontuais o financiamento pode chegar a 24 meses.
Para Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), o tombo histórico do varejo de 4,3%, em 2015, deve se repetir. Só não se sabe em que magnitude. A Confederação Nacional do Comércio estima retração de 3,9%.
— As vendas pararam de crescer e as empresas usam essas estratégias defensivas para roubar mercado dos concorrentes. Mas este ano será novamente ruim para o varejo — diz Felisoni.
FONTE: Publicação Eletrônica da Federação dos Empregados no Comércio
de Bens e Serviços do Estado da Bahia Nº 0336