SÃO PAULO - O paulista Robinson de Jesus Martins, de 40 anos, trabalhou, por sete anos, num call center que fazia o atendimento de uma empresa aérea e de um grande banco. Ele conta que cada “ilha de atendimento” tinha mais de 400 pessoas. Martins chegou ao cargo de coordenador, mas acabou perdendo o emprego após todos os processos da empresa terem sidoautomatizados .
Um estudo de pesquisadores da Universidade Harvard, nos EUA, mostra que muitos outros brasileiros vão correr o risco de perder o emprego para a tecnologia, o que desafia o país a preparar melhor seus trabalhadores para desenvolver habilidades que as máquinas não têm.
A pesquisa estima que 44,5 milhões de profissionais dos setores formal e informal, ou 53% da força de trabalho do país, estão em ocupações com 70% de chance ou mais de serem automatizadas nas próximas décadas com o uso de técnicas já existentes ou tecnologias em desenvolvimento com grande probabilidade de serem viabilizadas, como é o caso de carros autônomos.
O estudo analisou os efeitos em 373 ocupações no país. Entre as categorias com maior risco de automação estão motoristas (98% de chance), auxiliares de escritório (97%), vendedores de lojas (95%) e caixas (90%).
Com o título de “O Brasil Precisa se Preparar para a Era da Inteligência Artificial?”, o trabalho foi realizado pelo economista brasileiro João Moraes Abreu e pela cientista em computação russa Katya Klinova para uma dissertação de mestrado no curso de Administração Pública e Desenvolvimento Internacional da Harvard Kennedy School of Government.
Uma das orientadoras foi Carmen Reinhart, única mulher no atual ranking dos 12 economistas mais citados em trabalhos acadêmicos nos EUA.
A base da pesquisa sobre o Brasil foi um trabalho anterior feito por dois pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, em que especialistas em inteligência artificial identificaram ocupações nos EUA para as quais já existe tecnologia para executá-las de forma automática e também as que provavelmente serão “automatizáveis”.
A partir desse trabalho, os pesquisadores de Harvard buscaram as atividades equivalentes no mercado brasileiro. Além de apontar as profissões mais ameaçadas pela tecnologia, o estudo sobre o Brasil concluiu que homens correm mais riscos que mulheres e que os trabalhadores que ganham menos estão nas posições mais vulneráveis.
— Embora faça algum sentido que ocupações com salários menores sejam mais fáceis de automatizar, isso não é sempre verdade. Avanços recentes em telemedicina sugerem que atividades que até há pouco exigiam elevado conhecimento médico podem ser executadas por máquinas. O dado sobre o Brasil nos surpreendeu — diz Klinova.